13.5.06

uma jukebox em forma de leitor de cd

(...) e um tango com sabor a morangos com açúcar


Não posso mudar de casa. Não tenho dinheiro e para mais foi onde a minha mãe morreu, e eu sou um sentimental. Mas você não sabe o que é uma jukebox. Um monstro que atravessa as paredes das sete da manhã às cinco horas do dia seguinte. Não imagina o que é isso. O mesmo tango, a mesma canção, durante horas seguidas e você sem conseguir dormir, nem comer, deixa de ter qualquer liberdade. Comer tango, beber canções e nunca dormir ou ter o sono interrompido, cortado, atravessado por uma jukebox. Ah! Monstro verde, amarelo e vermelho! Queixei-me à polícia, escrevi cartas, reclamei junto de todas as autoridades possíveis e imagináveis. Ninguém me ligou nenhuma. Comprei uma granada de mão a um amigo militar. Tenho pena do que aconteceu ao dono do café, sobretudo agora que soube que era órfão de pai e de mãe. Espero que a minha mãezinha me perdoe. Fi-lo por ela, não podia mudar de casa.


Max Aub, Crimes Exemplares
Antígona, 1995, pág. 54

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